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Fibra alimentar: avanços na nutrição de monogástricos

Fibra alimentar: avanços na nutrição de monogástricos

A fibra alimentar, ou fibra dietética, é um importante componentes das matérias primas utilizadas na fabricação de rações para o mercado de monogástricos. Está presente principalmente em coprodutos, grãos e cereais fonte de carboidratos na ração. Parte desses carboidratos não é digerido pelas enzimas digestivas do intestino delgado, ficando disponível para fermentação bacteriana ao longo do intestino, principalmente no intestino grosso.

Sendo um agente com papel importante, mas pouco elucidado pela comunidade científica, ou mesmo pouco conhecido por parte dos nutricionistas, pesquisas recentes tem investigado seu papel e função associados à digestibilidade nutricional e à saúde intestinal em relação à microbiota, partindo do entendimento dos polissacarídeos não amiláceos (PNA’s) que compõe as diferentes porções dos ingredientes, até transpor barreiras da compreensão da exigência quantitativa das diferentes frações de fibra que atendam diversas necessidades.

Os polissacarídeos que compõem a parede celular dos vegetais variam muito na sua composição química, associações intermoleculares e comprimentos de cadeia linear, diferindo desta forma nos efeitos sobre o metabolismo e na composição da microbiota (McRorie et al., 2017; Molist et al., 2014). Devido à sua heterogeneidade, a fibra alimentar pode ser classificada de acordo com diferentes propriedades físico-químicas, como solubilidade em água, viscosidade, formação de gel, capacidade de ligação à água e fermentabilidade (Blackwood et al., 2000).

Antes de adentrarmos sobre o que a comunidade científica tem investigado sobre esta incrível dinâmica das fibras, precisamos entender sobre quantificação nas matérias primas. O método mais preciso de estimativa atualmente é obtido pela análise da fibra alimentar total, que é a soma dos polissacarídeos não amiláceos e da lignina. No entanto, o método para obtenção de seus monômeros individuais por meio de hidrólises enzimáticas e químicas, com sua subsequente quantificação por cromatografia gasosa ou líquida é demorada e trabalhosa. Desta forma, a migração do antigo conceito de fibra bruta (FB) ou fibra em detergente neutro (FDN), que são dois métodos de quantificação de diferentes porções de fibra dos ingredientes largamente utilizados nas formulações de rações, para os novos conceitos sobre PNA’s também é processo custoso e demorado, além de que os papeis desempenhados pelas fibras a nível metabólico, nas células intestinais e com interações da microbiota ainda não foram amplamente compreendidos e desvendados.

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Apesar da diversidade de métodos de quantificação gerarem resultados difíceis de comparação na literatura, alguns aspectos em diferentes níveis foram investigados sobre o impacto da fibra na nutrição e na saúde intestinal dos monogástricos. De acordo com Spiller (2011), as fibras solúveis apresentam um elevado grau de hidratação, com capacidade de formar géis e soluções viscosas, pois tem taxa de fermentação mais rápida quando comparada com a fibra insolúvel. Kim et al (2012) e McRorie (2015) complementaram que o aumento da viscosidade da digesta eleva o tempo de retenção no trato gastrointestinal, retardando as interações de enzimas digestivas e nutrientes, o que atrasa a degradação de nutrientes complexos, a absorção de glicose e de outros nutrientes nas microvilosidades intestinais (redução da digestibilidade), elevando a incidência de diarreia por disbiose bacteriana.

Porém, algumas porções de PNA’s solúveis que não alteram ou elevam a viscosidade da digesta podem ser utilizados pelas bactérias a nível de intestino grosso, contribuindo para a produção de Ácidos Graxos de Cadeia Curta (AGCC) que, quando absorvidos, são responsáveis por dar um aporte de energia aos animais, o que proporciona um efeito em cadeia de redução da inclusão de energia líquida na dieta, além de diminuir a produção de ácidos graxos de cadeia ramificada, que é um indicador de fermentação proteica (Kim et al, 2012). Em porcas, por exemplo, a inclusão de fibras na dieta fornece aproximadamente 30% da energia líquida de mantença (Serena et al., 2009).

Além disso, esses AGCC, pincipalmente o butírico e o propiônico, regulam a produção de IgA secretora na lâmina própria e a produção de IgG nos tecidos sistêmicos, estimulando o fortalecimento da barreira mucosa, como também a imunidade sistêmica de animais monogástricos (Kim et al, 2018).

Os PNA’s insolúveis por sua vez (celulose, lignina e algumas hemiceluloses), quando em grande quantidade, estão associados ao aumento da taxa de passagem da digesta pelo TGI, devido a sua capacidade de retenção de moléculas de água, que permite um amaciamento do bolo fecal e um aumento de volume, facilitando e reduzindo o tempo de trânsito intestinal (Spiller, 2001), podendo também reduzir a digestibilidade nutricional e elevar a perda endógena de aminoácidos. Porém, quando sua inclusão é avaliada em pequenas quantidades (2-4%), a redução da retenção prolongada de digesta no TGI mostra uma redução do risco de crescimento bacteriano excessivo no intestino delgado, além de estimular o consumo de ração pelos animais, uma vez que a taxa de passagem da digesta aumenta, melhorando seu desempenho (Molist et al. 2010).

De forma mais aplicada e conhecida, outras pesquisas demonstraram que a fibra alimentar tem importante papel no desempenho produtivo e reprodutivo (parto) de matrizes suínas. A intensa seleção genética para aumento da prolificidade das matrizes teve efeito no aumento da duração do parto, que por sua vez tem efeitos deletérios nos parâmetros produtivos e reprodutivos da matriz (Björkman et al., 2018), e prejuízos na vitalidade, sobrevivência e desempenho dos leitões (Langendijk; Plush, 2019). Sendo assim, a dieta e o manejo nutricional no periparto são um dos fatores relacionados à distúrbios no parto, onde a inclusão de fibras tem papel fundamental na saúde e equilíbrio sistêmico.

Em suma, Fischer (2003) concluiu que a resposta do animal aos diversos tipos e quantidades de fibra alimentar é variável e depende de seu status fisiológico, da comunidade microbiana, das condições ambientais e do status sanitário. Da mesma forma, a alteração na microbiota em um rebanho devido ao estresse ambiental ou ao surto de doença clínica ou subclínica alterará a resposta animal às diferentes frações de PNA da dieta.

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