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Importância da qualidade das matérias primas na produção de rações

Importância da qualidade das matérias primas na produção de rações

Cenário da produção de ração

A produção agrícola brasileira, influenciada pela alta dos preços das commodities e por diversos outros fatores como a valorização do dólar e o aquecimento da demanda externa, vem batendo todos recordes em termos de produção e rentabilidade. 

Apesar dos ótimos resultados, a última safra promoveu cenários contrastantes no setor agropecuário, pois, produtores rurais que escoam suas produções para o mercado local enfrentaram grandes desafios relacionados aos altos valores do milho, farelo de soja e aditivos importados.

Segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), nos últimos doze meses o preço do farelo de soja aumentou cerca de 40%. O milho, que no ano passado custava R$ 1761,00/tonelada e R$ 50,00/saca de 60 kg, em junho de 2021 passou a custar R$ 2422,00/tonelada e R$ 97,00/saca de 60kg. Esse ajuste nos preços dos insumos resultou na elevação de quase 75% do custo da ração para frangos e suínos.

Apesar da elevação dos custos de produção, o Sindirações apontou um aumento de 5,2% na produção de rações no primeiro semestre de 2021, em comparação com o ano de 2020, com forte presença da suinocultura e avicultura de corte (Tabela 1).

PRODUÇÃO
Figura 1 – Sindirações

Qualidade dos ingredientes

A indústria da nutrição animal, em busca da redução do custo final que acarreta maior competitividade no setor, procura associar dois fatores na escolha de ingredientes: menor preço e qualidade.

Os insumos utilizados devem apresentar características que garantam a qualidade do produto final, e no caso da nutrição animal, rações balanceadas que tornem possível um maior desempenho zootécnico das aves, suínos e demais espécies.

É válido lembrar que, apesar do artigo em questão focar apenas nos ingredientes, a qualidade final do produto depende de diversos fatores, como sanidade, mão de obra, Boas Práticas de Fabricação – BPF’s, estrutura fabril dentre outros.

A escolha de fornecedores idôneos, que possuam em suas estruturas produtivas um controle de qualidade bem estabelecido, é de suma importância para garantir um produto final com as características desejadas. Os ingredientes adquiridos devem possuir ficha de análise bromatológica, que conste sua composição química, seu valor alimentício e calórico, suas propriedades físicas, químicas, toxicológicas e também adulterantes, contaminantes, além da garantia dos mesmos.

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É interessante que o comprador tenha sua própria estrutura para realização de análise como contraprova assim que os produtos cheguem a sua unidade, pois caso os valores obtidos estejam fora da margem que é definida e esperada, é recomendado que os ingredientes não sejam descarregados, procedimento que pode  evitar possíveis contaminações.

Armazenamento, fungos e micotoxinas

A armazenagem realizada de forma adequada é fundamental para minimizar perdas por causas biológicas e químicas, garantindo a preservação da qualidade dos ingredientes.

Alguns dos princípios a serem seguidos para um bom armazenamento das matérias primas são citados a seguir:

  • Cuidado com a umidade e temperatura nos silos e galpões;
  • Uso de paletes para evitar contato direto com o chão;
  • Não misturar ingredientes;
  • Os primeiros sacos ou ingredientes a granel devem ser os primeiros a sair, evitando assim que fiquem velhos;
  • Limpeza e aeração.
  • Cuidados mais rígidos com produtos de origem animal e higroscópicos.

Cuidados com o armazenamento também são fundamentais para evitar a proliferação de fungos e a posterior produção de micotoxinas.

O termo micotoxina é utilizado para definir um grupo de metabólicos secundários produzidos por fungos que se desenvolvem em alimentos e produtos agrícolas. Esses compostos induzem uma série de reações tóxicas no organismo, prejudicando o desempenho dos animais, seja de maneira direta, afetando órgãos envolvidos no processo de digestão e absorção de nutrientes, ou de maneira indireta, atuando sobre o sistema imunológico, tornando os animais menos resistentes a infecções.

Na tabela abaixo estão citadas algumas das principais micotoxinas, seu fungo produtor e sua toxidade.

produção

Resultados técnicos

Pesquisas realizadas por Miglino (2012), demonstraram que o fornecimento de alimentação contendo resquícios de micotoxinas promoveu a redução no ganho de peso em frangos; hipertrofia renal severa, com coloração pálida e presença de uratos;, coloração amarelada e bordas arredondadas no fígado, assim como vesícula biliar repleta. Além disso, os frangos apresentaram problemas no sistema imune, com diminuição dos linfócitos B e macrófagos.

A partir de uma meta-análise, Boemo et al. (2015), demonstraram que dietas com níveis de 1, 2,5 e 3 ppm de aflatoxinas reduzem  o desempenho produtivo das aves, já que os frangos intoxicados apresentaram menor consumo de ração e em consequência menor peso corporal. A relação entre o peso dos órgãos com o peso corporal também foi alterada, sendo que baço, coração e fígado apresentaram maior peso quando as aves foram intoxicadas por aflatoxinas.

Referências

BOEMO, L.S. et al., Estudo meta-analítico de diferentes níveis de aflatoxinas no desempenho de frangos de corte de 1 a 21 dias alojados em baterias. Acta Scientiae Veterinariae. 43: 1317. Disponível em: <http://www.ufrgs.br/actavet/43/PUB%201317.pdf>

MIGLINO, L.B. EFEITO DE MILHO NATURALMENTE CONTAMINADO COM MICOTOXINAS SOBRE IMUNIDADE E DESEMPENHO EM FRANGOS DE CORTE. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2012. Disponível em: <https://www.acervodigital.ufpr.br/handle/1884/27772

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