O trigo é um cereal de inverno da família Poaceae presente de forma milenar nas tradições, segurança alimentar e econômica dos povos. Assim como outras culturas, o trigo sofreu cruzamentos espontâneos e seleção genética durante milênios até a planta que conhecemos atualmente, com características como alta produtividade, resistência a doenças, adaptação local e qualidade nutricional, onde sua adaptação edafoclimática permitiu plantio em diferentes condições climáticas por todo o planeta.
No Brasil, o trigo está sendo cultivado desde a Região Sul até a região de cerrados, no Brasil Central. Como uma commodity, é comum nos depararmos com os tipos transgênico e não transgênico no mercado. Desta forma, neste artigo, trataremos do trigo não transgênico, também chamado de convencional, e boas práticas de produção aplicadas a ele.
De acordo com a Conab, entre 2019 e 2023, a área destinada à produção de trigo no Brasil cresceu 70%, mas para 2024 a entidade projeta queda de 4,7% (3,3 milhões de hectares) em relação à safra anterior devido às incertezas climáticas, altos custos e variação do preço por tonelada. Todavia, apesar da queda na área de produção nacional, a produtividade do trigo projetada pela Conab pode chegar a 26% com relação ao ano anterior. Embora as estimativas preveem um aumento na produtividade, ainda é preciso importar trigo para atender à demanda interna para consumo humano. Atualmente, o Brasil se encontra no 14º lugar no ranking dos maiores produtores de trigo do mundo (safra 2023/24).
Na indústria, o trigo se destaca pela utilização da sua farinha como matéria-prima principal para a fabricação de produtos panificáveis. A farinha é obtida por meio da moagem, com a separação ou não do farelo e do gérmen. A moagem do trigo envolve três etapas: etapa 1 – recepção, pré-limpeza e ensilagem; etapa 2 – limpeza e acondicionamento; etapa 3 – moagem. Após esse procedimento, elas são classificadas em farinha integral, branca, comum e especial, ou mesmo separadas em função dos demais constituintes do grão, como o farelo e o gérmen, e também em função do tamanho das partículas, como a sêmola e a semolina.
Comprovando sua versatilidade, o uso do trigo não transgênico se estende além da indústria alimentícia, estando muito presente na alimentação animal, na fabricação de bebidas, na indústria de biotecnologia e farmacêutica, incluindo medicamentos, cosméticos e produtos de cuidados pessoais, na produção de papel e papelão como alternativa às fibras de madeira tradicionais, entre outros.
Na cadeia de abastecimento food, para que o trigo chegue à mesa do consumidor, os grãos devem estar aptos para consumo ou processamento, seguindo padrões e normas definidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). As normativas têm a função de orientar quanto à classificação, qualidade e padronização dos grãos, sendo extremamente importantes pois estabelecem os critérios para comercialização, de forma a garantir segurança alimentar e a qualidade de produtos derivados.
No Brasil o trigo não transgênico segue a Instrução Normativa nº 38, de 30 de novembro de 2010. Este regulamento refere-se ao padrão oficial de classificação, com os requisitos de identidade e qualidade, amostragem, modo de apresentação e a marcação ou rotulagem dos grãos provenientes das espécies Triticum aestivum e Triticum durum. O regulamento dá as diretrizes de classificação em grupos definidos de acordo com o uso, sendo o Grupo I o trigo destinado diretamente à alimentação humana, sendo enquadrado em tipo de acordo com sua qualidade; o Grupo II refere-se ao trigo destinado à moagem e outras finalidades, sendo alocado em classes de acordo com o uso e, dependendo de sua qualidade, em tipos. Na Classe de trigo “Outros Usos” estão incluídos produtos que não se enquadram nos usos tradicionais, como produção de ração animal e utilização industrial.
A classificação vegetal, por sua vez, é a forma de determinar a qualidade de grãos através de análises cujo resultados são comparados com os padrões oficiais. Os grãos são levados a laboratórios e classificados por profissionais capacitados na área. Portanto, as normativas caracterizam os grãos e definem os parâmetros de qualidade que devem ser avaliados, como a coloração dos grãos, a umidade, porcentagem de avariados, entre outros, estabelecendo as tolerâncias aceitáveis para cada parâmetro.
Essas normas e exigências estabelecidas pela legislação brasileira de qualidade dos grãos são importantes para garantir a segurança alimentar dos consumidores, evitar fraudes e enganos na comercialização de grãos, além de incentivar a produção sustentável e a competitividade do setor agrícola. Com a introdução no mercado de cultivares de trigo transgênico, foram necessárias adoção de diretrizes de boas práticas de produção do trigo não transgênico. Desta forma, acompanhe abaixo os princípios das boas práticas de produção adotadas.
Boas práticas na produção de trigo não transgênico (convencional)
A produção de trigo não transgênico requer minúcia do plantio até a colheita, para garantir a qualidade e pureza do produto final e evitar possíveis contaminações cruzadas com cultivares transgênicos. As boas práticas, de forma geral, podem ser divididas em torno de práticas de conservação do solo, aquisição e uso de sementes e fertilizantes, plantio, colheita e pós colheita.
Sementes e fertilizantes
O ponto de partida se dá com a seleção de sementes de trigo não transgênicas de fontes confiáveis e certificadas, garantindo a qualidade e pureza genética das plantas. A cultivar a ser escolhida deve estar de acordo com as condições ambientais da unidade produtiva, pois diferentes cultivares possuem tolerâncias diferentes às doenças, podem ter maior potencial de rendimento a um custo maior de adubação, outras dependem de menor investimento para atingir o resultado máximo. Esses detalhes são importantes para prevenir lacunas de produtividade e mau uso de áreas de plantio.
Desta forma, as práticas de manejo devem seguir as peculiaridades e fragilidades específicas do cultivar quanto ao ambiente, períodos de semeadura de acordo com o Zoneamento Agrícola de Riscos Climáticos, condições do solo e adubação. Os fertilizantes orgânicos e minerais devem ser usados com base em análises de solo para evitar excessos, minimizar a contaminação ambiental e reduzir perdas econômicas. Quanto à composição química do grão de trigo, esta pode variar conforme a região, as condições de cultivo, cultivar escolhida, características do solo e o ano da colheita. O conteúdo de nutrientes do grão e de suas frações influencia as características funcionais e tecnológicas dos produtos e, em conjunto com as propriedades estruturais, define a qualidade da farinha de trigo, que é o principal produto advindo do trigo e representa uma fonte significativa de energia na dieta humana.
Práticas de conservação do solo
A escolha de áreas para o plantio do trigo que sucedem rotações de culturas é uma importante estratégia para reduzir a incidência de doenças, melhorar a fertilidade do solo e minimizar a necessidade de pesticidas. Além do histórico de plantio da área, estar atento também com o tipo de solo ao qual predomina na propriedade (ou região, de acordo com a classificação brasileira de solos) auxilia na tomada de decisões quanto aos manejos de conservação.
Uma prática importante é que a semeadura não deve ocorrer em solo excessivamente úmido, para reduzir o risco de ocorrência do mosaico-comum do trigo. Esta prática também evita a excessiva compactação do solo pelo maquinário, o que prejudicaria o crescimento da cultura. Cada sistema de plantio utilizado, a exemplo do convencional ou de plantio direto, possui suas peculiaridades no manejo de conservação. Todavia, o manejo convencional exige do produtor um cuidado especial, pois o intenso revolvimento no preparo desse sistema pode sujeitar o solo à degradação e perda de nutrientes, devido a desconstrução da estrutura de agregados e à maior entropia.
Em sistema de plantio direto, as práticas conservacionistas consistem em promover a cobertura permanente do solo, por meio de rotação e sucessão de culturas e da movimentação e corte do solo na linha de plantio. As vantagens deste sistema são a eliminação de erosão do solo através da chuva, melhora da permeabilidade e porosidade do solo promovida pela permanência de raízes que auxiliam na estrutura dos agregados. A permeabilidade à água e retenção de umidade nas camadas superiores do solo também são melhoradas, proporcionando boas condições de crescimento para as plantas. O plantio direto proporciona também benefícios em economia de combustível, tempo, mão de obra, maior possibilidade de semeadura na época certa, melhor resposta da cultura às chuvas e melhora a germinação de sementes e emergência das plantas.
Outra prática de grande interesse na conservação da vida do solo é o manejo integrado de pragas, doenças e plantas invasoras, adotando métodos de controle biológico, cultural e mecânico antes do uso de produtos químicos. A grande vantagem dos sistemas de plantio direto é a priorização do mínimo revolvimento do solo e manutenção de cobertura morta durante toda a fase de crescimento das culturas, o que traz diversos benefícios para o solo, como a redução do crescimento de plantas invasoras e recuperação da estrutura do solo.
Colheita, armazenamento e rastreabilidade
A preocupação com a qualidade do trigo deve ser iniciada desde a escolha da cultivar a ser plantada, uma vez que a variedade da semente, as condições de solo, o manejo da cultura, o momento da colheita, entre outros, afetam diretamente as características do grão colhido e, consequentemente, seu uso industrial.
Portanto, a colheita do trigo deve ser realizada no ponto de maturação adequado (% de umidade) e com equipamentos limpos para evitar a contaminação cruzada com outras variedades transgênicas. O mesmo procede para o armazenamento e o beneficiamento: deve ser feito em condições adequadas de temperatura e umidade para preservação da qualidade e ser realizado em ambientes limpos, sem a mistura de cultivares transgênicas, de forma a garantir a segregação correta dos grãos.
Discutimos em artigos anteriores sobre a importância da rastreabilidade dos grãos, que você pode conferir pelo link. A rastreabilidade exige registros detalhados de todas as etapas do processo de produção, desde o plantio até a comercialização. Através destes registros também é possível adquirir certificações de qualidade emitidos pelos órgãos reconhecidos, sendo uma forma de garantir a conformidade com os padrões de trigo não transgênico.
Saiba mais sobre rastreabilidade de grãos: Sistema Blockchain OPTA
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