A busca por uma produção sustentável aliada aos mais altos níveis de exigência em qualidade pelos consumidores é um desafio que os nutricionistas têm abraçado fortemente. A produção de proteínas de origem animal para suprir o crescimento populacional se expande rapidamente e o dever com o bem-estar animal deve estar aliado às estratégias de produção. Nesta busca por produzir com qualidade a baixos custos, a preocupação com a integridade da mucosa intestinal e com o equilíbrio da microbiota tem ganhado espaço na decisão pelo uso de ingredientes alternativos, a exemplo das fibras dietéticas, que se mostram promissoras nesta missão.
Um dos componentes que estão presentes nos ingredientes, mas que não recebem muita atenção, são as fibras. As fibras dietéticas, ou também conhecidas como Polissacarídeos Não Amiláceos (PNA’s), são as porções de polissacarídeos que não são digeridos pelas enzimas produzidas no trato gastrointestinal de aves e suínos. É composta por celulose, hemicelulose (arabinoxilanos, xiloglucanos, galactomananas, β-glucanos, entre outros), pectinas, gomas e amido resistente.
Acesse nosso LinkedIn: OPTA Alimentos
Pouco se compreende sobre seus efeitos físico-químicos no trato gastrointestinal e escassos são os dados precisos sobre conteúdo, composição e sua variação. Os ingredientes convencionais, por exemplo, podem apresentar variação na composição de fibra devido a diferenças genéticas, climáticas, época de colheita e condições de processamento. Quando não bem quantificada, a variação em sua composição pode ter consequências negativas na eficiência e uniformidade da produção animal.
Todavia, as fibras dietéticas têm se destacado como opção na busca por uma produção de ração animal mais sustentável, além de já ser uma estratégia conhecida e bem estabelecida para algumas categorias, a exemplo das matrizes suínas e poedeiras, em que seu uso está associado à saciedade e também no aporte de Energia pela forma como atua no intestino. Por exemplo, no caso de porcas em gestação, a contribuição energética obtida pela utilização dos AGCC oriundos da fermentação de fibra pode chegar a 30% das necessidades de energia de mantença, podendo variar de acordo com a solubilidade (fibra solúvel e insolúvel, cada uma com seu perfil constituinte e variável de acordo com a matéria prima) e à qualidade da fibra presente na dieta, isto devido a ação da microflora do trato gastrointestinal, que rompem enzimaticamente as ligações β-1,4 da celulose, disponibilizando glicose para ser fermentada em ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) que proporcionam benefícios positivos para a saúde intestinal, fortalecendo a estrutura e a função da mucosa.
Sob a ótica da fibra dietética, suas frações podem ser divididas de acordo com sua solubilidade. A fibra dietética solúvel tem por característica rápida fermentabilidade pelos microrganismos do intestino grosso e formação de gel viscoso. Esse gel faz com que ocorra uma diminuição no esvaziamento gástrico, trazendo a sensação de saciedade, além de tornar a digestão e o tempo de trânsito no intestino mais lento. Como consequência, ocorre a redução da absorção de nutrientes e consumo de ração, podendo afetar o desempenho do crescimento quando em níveis exacerbados na dieta. Por sua vez, a fibra digestível insolúvel é lenta ou parcialmente fermentada e absorve água durante sua passagem pelo sistema digestivo, aumentando o volume fecal e reduzindo o tempo de trânsito intestinal. Como resultado, as fezes tornam-se macias e de fácil eliminação. Seu uso estratégico traz efeitos fisiológicos positivos, como o desenvolvimento da moela em frangos e poedeiras e a produção de enzimas endógenas, resultando em melhorias na digestibilidade de nutrientes, índices de mortalidade, crescimento e eficiência alimentar.
Além disso, o avanço de mecanismos de identificação das frações de fibra e o desenvolvimento de aditivos nutricionais capazes de incrementar seu aproveitamento como um modulador de microbiota, mostram força como alternativas nas formulações. Sabe-se que a microbiota intestinal contribui significativamente para o desenvolvimento imunológico e a saúde metabólica, onde mudanças na composição da microbiota podem levar a uma perturbação do sistema imune no intestino, causando danos à mucosa e prejudicando a absorção de nutrientes, afetando a saúde do animal e comprometendo seu potencial produtivo.
Leia também: Desempenho Zootécnico: Como prevenir e mitigar distúrbios entéricos.
No entanto, os efeitos da fibra são dependentes do nível e de seu tipo, necessitando, desta forma, de conhecimento sobre fonte, forma, processamento e nível de inclusão, buscando obter desempenho desejado e benefícios econômicos em condições comerciais. Já estão disponíveis fontes de fibra extrusadas de 3ª geração, capazes de elevar ainda mais seus efeitos benéficos no intestino e servindo como excelentes opções para apoiar o desenvolvimento de uma microflora benéfica.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BERTECHINI, A. G. Nutrição de monogástricos. Lavras: Editora UFLA, 2006, 301p.
BRENNAN, C. S. Dietary fiber, glycemic response, and diabetes. Molecular Nutrition Food Research, Voorhees, v. 49, p. 560-570, 2005.
MAHAN, K. L.; ESCOTT-STUMP, S.; RAYMOND, J. L. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012, 1227 p.
SILVA, J. H. V.; PASCOAL, L. F.; LIMA, R. B.; LACERDA, P. B.; ARAÚJO, G. M. Digestão e absorção de carboidratos. In: SAKOMURA, N. K. et al. (Coord.). Nutrição de não ruminantes. Jaboticabal: Funep, 2014, p. 47–61.